Na manhã de quarta-feira (18) o Hospital de Caridade de Canguçu (HCC) suspendeu temporariamente novas internações na área da pediatria. O comunicado foi feito verbalmente para funcionários, médicos e a Coordenadoria Regional de Saúde, em Pelotas.

Em entrevista cedido ao Jornal Canguçu Notícia na manhã desta quinta-feira (19) o presidente da casa de saúde, Delaci Borges, explicou que a suspensão se deu pela ausência de funcionários, que entraram com atestado médico. A ala reabriu horas mais tarde e, na mesma noite, 3 pessoas foram atendidas.
– Estamos só com o atendimento de urgência e emergência, tendo em vista a falta dos funcionários. Ontem recebemos mais de dez atestados médicos dos funcionários ao longo do dia, e o aviso de que a noite muita gente iria faltar. A gente está atendendo na medida do possível, os funcionários estão sem receber. O governo não repassa o valor em aberto desde o mês de janeiro.
O Hospital de Caridade de Canguçu é referência a cidades como Santana da Boa Vista, Morro Redondo, Cerrito, Arroio do Padre e interior de São Lourenço do Sul; 90% das internações são pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A CRISE DOS NÚMEROS:
Segundo o presidente, a diretoria se reuniu na tarde de quarta-feira (18) para discutir possíveis ações. Neste mês foi liberado um incentivo do estado referente ao mês de janeiro, no valor de R$ 180 mil, mas houve um desconto de R$ 142 mil, referente à uma negociação da antiga gestão, restando ao caixa somente R$ 28 mil.
Neste contrato, o estado repassava uma quantia a mais para a instituição, mas além das metas de produção estabelecidas, essa diferença deveria ser devolvida ao estado no futuro.
Em dezembro do ano passado, o gestor Mário Fonseca comentava sobre a expectativa de obter uma linha de crédito de R$ 4,7 milhões, para poder quitar ao menos uma parte das dívidas.
A proposta era que a Caixa Econômica Federal comprasse as dívidas da instituição no Banrisul e do Banco do Brasil, reduzisse os juros e estendesse o prazo, reduzindo assim a parcela, possibilitando à casa ficar com um saldo positivo de R$ 150 mil no caixa por mês.
Segundo o presidente, esse saldo seria usado para pagar os médicos e a reposição da farmácia, mas a possibilidade foi descartada devido à dívidas vencidas no Banco Central, um impeditivo para a tomada de qualquer empréstimo.
OS FUNCIONÁRIOS:
Com 2 meses de salários atrasados e sem receber os vencimentos de 13º salários de 2016 e 2017, diversos funcionários estão afastados com atestado por problemas de saúde. Com isso, os servidores que continuaram atuando passaram a lidar com a sobrecarga de trabalho.
RELEMBRE:
Em outubro do ano passado, o Hospital de Caridade anunciou em uma sessão na Câmara de Vereadores a possibilidade de fechamento. Na época, as dívidas estavam na casa dos R$ 30 milhões. Só para os médicos, entre honorários e Autorizações de Internação Hospitalar (AIHs), a pendência era de cerca de 3,5 milhões.
OS DESAFIOS DA GESTÃO:
Com a atual situação, o Pronto-Socorro passou a ser o único setor da casa a receber atendimentos de caráter emergencial. Os demais atendimentos ficarão a cargo do Pronto Atendimento, mantido pela Prefeitura Municipal de Canguçu, no Centro.
O chefe do Executivo, Marcus Vinícius Pegoraro (PMDB), assegura que a situação financeira da prefeitura não permite ampliar os repasses já efetuados, no valor de R$ 238 mil por mês para cobrir atendimentos do Pronto-Socorro e em três áreas: pediatria, obstetrícia e anestesia. Sem falar na cedência de dois médicos, também pagos pelos cofres do Município.
Delaci ressaltou ainda sua preocupação com a casa de saúde e frisou que sua gestão estará empenhada até o final de seu período.