O real brasileiro sofreu forte desvalorização nesta quinta-feira (23) após o governo federal anunciar um pacote de medidas fiscais que inclui o aumento de impostos sobre transações financeiras. A iniciativa, liderada pelo Ministério da Fazenda comandado por Fernando Haddad, tem como objetivo conter o avanço do déficit público e reforçar as contas do governo.
Segundo estimativas oficiais, o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) poderá gerar uma arrecadação adicional de R$ 20 bilhões já em 2025 e de R$ 41 bilhões em 2026. O novo modelo de tributação incide sobre uma série de operações financeiras, incluindo compras de moeda estrangeira, remessas internacionais e transferências realizadas por fundos offshore.
O que mais surpreendeu os investidores foi a aplicação de uma alíquota de 3,5% sobre essas transações com moeda estrangeira. O anúncio inesperado gerou reação imediata nos mercados: o dólar comercial subiu fortemente frente ao real, refletindo a percepção de maior intervenção estatal e o temor de fuga de capitais.
Economistas e analistas do setor financeiro avaliam que, embora a medida tenha potencial para melhorar a arrecadação a curto prazo, ela pode prejudicar a atratividade do Brasil para investidores estrangeiros. O aumento do custo sobre remessas internacionais e operações de câmbio pode impactar tanto o mercado financeiro quanto empresas que dependem de capital externo.
Por outro lado, o governo defende que a medida é necessária diante do cenário fiscal desafiador. Com a previsão de aumento dos gastos públicos e a queda na arrecadação, a equipe econômica busca alternativas para cumprir a meta de déficit zero no próximo ano, conforme prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ministro Fernando Haddad destacou que a decisão de aumentar o IOF está em linha com o esforço de recompor receitas sem alterar tributos sobre o consumo ou a renda da população. Ele também ressaltou que a alíquota poderá ser revista conforme a evolução do cenário econômico.
Apesar das críticas, setores ligados ao governo consideram o anúncio um passo importante para dar maior previsibilidade ao orçamento e sinalizar compromisso com a responsabilidade fiscal. No entanto, especialistas alertam que a medida, se não for acompanhada de uma agenda mais ampla de reformas estruturais, pode ter efeitos limitados sobre o equilíbrio das contas públicas.
A desvalorização do real e a reação negativa do mercado evidenciam a sensibilidade dos investidores a mudanças inesperadas na política econômica. O governo terá agora o desafio de equilibrar a necessidade de aumentar a arrecadação com a manutenção de um ambiente favorável para os negócios e o investimento estrangeiro.